arfar do hálito
um sussurro que nega
bocas de húmidas línguas, sedentas
lábios maduros e quentes
pela firmeza, a rendição.
puro suor cumpre o destino
ajustar das curvas dos corpos
enquanto se esmagam bocas…
roçar de pernas
derretem-se desejos em resistências de mel
carinhos líquidos no brilho molhado dos olhos
selar do mundo no sussurrar do nome…
todo o corpo é movimento.
Ganas e movimento…
mãos presas, mãos exploradoras
lábios disciplinadores do corpo
na escondida exposta
rubra amora que não aplaca
euforia no embainhar
o relâmpago
fragilidade de eléctrica convulsão
o desejo de bis!
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Pagão hálito que envenena
sublime maçã sazonada
a boca vai tecendo silêncio
os olhos envolvem a pele
perpendicular impetuosidade
as mãos segredam notas musicais
de bruma na espuma
que à pluma ruma
depenicos debicos de bicos a mordicar
os corpos sedentos envolvem-se
fundem-se
dissolvem-se
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
transpor o barranco e cicatrizar temporais
sem miopismos a empoeiradas mentes
o coração verte lágrimas de cristal
sob uma lua surreal
flutuam os lábios que lacram o beijo
famintos na quietude do desejo
pelos espinhos se teme a flor
eterno Inverno
nublado de erotismo
arrepios percorrem a carne
sublime clandestinidade da madrugada
ser delta e ser foz
incandescente beijo de vidro
inaugurando a tela
cansados braços, buscando na ausência
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
ser avestruz
há miopismos que se tentam transpor
e mentes emporiradas que circundam
há lágrimas de puro cristal
vertidas pela alma
o coração da lua
é barranco intemporal
faminto e surreal
flutuam quietudes
espinhos de desejos
famintos
na flor que teme abrolhos
há noites invejosas
que vão moendo, caladas
aguardar o tempo que brandamente macera
sensações de sentidos
sentidamente pressentidos e incoerentes
mas prescientes
braços cansados, caídos
buscando
tange o ser…
o ser avestruz
que não sabe, mas quer voar
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
na madrugada clandestina
é sublime ser montante e jusante
ser incandescente delta
e em beijos de vidro, ser a foz
inauguro a tela
percorro erotismos enublados
flutuam Invernos em lábios lacrimejantes
eternos que lacram Invernos
perfumes, tactos, músicas, cores, gostos
a ardente escala de faunos beijos
estendidos, flutuam os beijos
meramente na lira que tange, sensual
aromas subtis de louco sabor
que aspira alma de estranha melodia
no beijo disperso
controverso
inverso
perverso…
a luz da maçã no sabor do poente…
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Não quero as nuvens negras
ameaçando tempestades!...
Eu quero ser o pássaro branco,
o pássaro leve que desliza
alegre na brisa que tamborila…
Quero acender uma estrela num chão de palavras…
Quero o som da chuva
imortalizado na delonga de um verso…
Eu quero o mar distraído,
e o odor do tempo suave,
e os restos de Atlântico nos olhos…
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Abandonai a noite medonha e feia
estimada como preciosidade!
Que não medrem mais as faíscas gélidas
que aplaquem o desespero das almas famintas de luz
que cesse, na alma, a chuva estupidamente persistente
parecendo não abandonar o céu!
Deixai a pomba branca
partir rumo ao pôr-do-sol
onde um brilho de alegria, bailarino perfeito,
começa a florir
nos conquista e encanta
e proporciona um espantoso cenário…
Olhai a vida
como um navio de luz resplandecente
a rasgar as águas deste rio doirado…
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Trajada de infinito
na una demência insana
encontra-se a lucidez
algures
numa esquina da mente
uivando sua dor sôfrega
entre cardadores de erectos abrolhos…
É urgente travar a evolução!
O alheamento disfarçado em cada ser,
numa ostentação faustosa de ventura
encobrindo cada ermo descampado
impúdico e perverso
na avidez de uma evolução
que se pretende interdita
o exílio da alma ante o corpo
contraiu matrimónio
com a ternura deprimente do progresso.
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Há um vulto iluminado pela lua
nesta noite esquálida de perfume
noite em que ao calor de uma carícia
se opõe uma brisa eivada
por odores pincelados de lírios
e discretas açucenas.
noite pura, cálida e fria
em que baila a geada em noite de julho
em que o trigo saltita e a cevada se agita
na brisa perfumada de uma espiga meneante…
Solitária miro a cigarra
cantando perfumes de verão
numa quente noite de estio perfumada
em que neva em meu coração…
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Serei talvez
um auspicioso trovador
num moderno caminho destruidor…
A noite será chocolate
para uns ouvidos áridos de mel
ante a luz suave do entardecer
e o crepitar de cinzas numa fogueira feita borralha…
À luz paciente da lua
aromatizada pelos gritos das flores
nascem pensamentos ridículos,
sorrisos que rapidamente morrem nos lábios,
à suave luz do entardecer
petrifica-se um amor de uma felicidade contrariada.
O dia engole a noite e a noite devora o dia…
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Deambulo errante numa estrada
que ruma a uma terra estéril
a um negro fundo de um precipício.
Entre o poço do passado e o abismo do futuro
há um firmamento estrelado de uma forma extravagante
engodado de uma perfeição estupidamente brilhante.
Em mim há um rebelde demónio
que me segreda sobre a falsa ciência do amor
que me murmura sobre esse sentimento obsoleto.
É fácil falar da dor
nesta existência sonambúlica.
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Nadar bem…
procurar águas límpidas e cândidas…
Procurar
a difusão do brilho cristalino de um raio de sol
que se espraia pelas águas ondulantes…
Ter o discernimento suficiente
para não se deixar iludir por cores brilhantes…
Ser suficientemente inteligente
para se adaptar a alternâncias de correntes…
a variadas temperaturas da água…
Nadar,
nadar livremente…
Nadar livremente entre algas e corais
e ter tempo para apreciar a sua beleza…
Aproveitar a paz luminosa no mistério da vida…
Usufruir toda essa alegria
que só pode ser apagada pela confidência da morte…
…
Foi esta a história
que um peixinho me contou
quando eu era criança…
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Curvo-me na prancha que afugenta os anos-luz
se tardas, tarda o destino…
Sem ti, mastro, e eu, vela, só barlavento…
Não sei velejar.
Tropeço o vento
estatelo-me no sequeiro…
Que faço com o horizonte?
…
Desfraldo a vela
liberto a alma…
Que faço com a tangerina?
Inocento o tempo…
Sequei as lágrimas na diagonal
com versos de verde esperança…
Engrosso a multidão de sonhadores…
Busco-te mirante
em versos com metáforas, envergonhados…
…
Vem
debicar meus lábios
com beijos de sol…
Não inocentes as mãos…
Rasga convenções
inventa gestos
acende a brasa
dá-me a vereda, o trilho para chegar ao cume…
Sê maestro da orquestra e sequestra
dança-me nas letras de bichos de seda
solta-me o rouxinol
…
Desata o atilho e desfralda a ternura…
Define meu rumo
não sei navegar!
Carda o coração
de seda e veludo
e descalça, seguir-te-ei…
Deixa-me tocar teu peito
orlar o sereno azul da lua
na prata que furta ao mar…
Deixa que a noite amadrinhe o amor…
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
perdida no nevoeiro
a dormência da bruma já nem incomoda
a alma habitua-se
eterniza-se, secretamente
a rotunda das estações…
acarinha-se a Primavera
a volúpia do Verão
o másculo peito do Outono
o bafio do Inverno…
já nem incomoda, a dormência da bruma
a busca que transpira em cada verso
giram, tímidas, as letras
do verbo sonhar…
rola o chapéu para os olhos
onde esconde a nudez…
a pele nua, feita de espuma
fundindo ondas…
a dormência da bruma…
já nem incomoda
ser musgo de muro ancião…
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Invento a vida
Reinvento a vida
sem abraços servis que ladeiam a cintura…
Ser princesa em reino de segunda classe…
Sonhar
o perder de bocas sedentas no encontro de lábios
inquieta língua…
O castelo
sincero como o papagaio do rei…
O príncipe
é montada de cavalo branco
tal bola no roseiral…
Intransigente jardim de rosas
onde a sintonia dos corpos
é dona do alvorecer…
O sal dissolve-se na água
onde, em maré de feminino
se decompõe o veludo do chocolate
dissociando cacau e açúcar…
É proibida a doçura ser dona da madrugada!
Viajante em esfera de tortuoso aço
esmaga e engasga em colo de felino
predador…
Pré da dor…
O príncipe, de corda ao pescoço,
oculta-se em brilhante plumagem…
À princesa anã
não é permitida aproximação
ela cai do cavalo,
branca e pálida
esquálida
sedenta de vida…
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Não podem ser assumidas dúvidas
dúvidas que espreitam
e nuas, sedutoras, ensandecem…
Dúvidas do sol e da lua
que com a quietude de sua beleza
iludem os tolos!
Duvidas do mar e do sorrir
que ilude a tristeza com o olhar
como se o banho de mar
infundisse esperança…
Praia extrema do inferno
que enfuna as velas de fogo
em que as sereias e seu canto
abandonam coração na vítrea areia.
Duvidar da dúvida que duvida da vida
e tece teias que enleia
e baralha
e confunde os afogados…
Não podem ser assumidas dúvidas
aparecem
permanecem
ensandecem…
O espelhar da ausência
na essência da inocência
é uma sapiência…
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Não quero sorrir na rotunda do esquecimento!
Contemplo uns passos
no mar imenso de minhas esperanças
seguindo a sombra do pensamento
sob a árvore lenta e silenciosa
lenta como minha vida.
As folhas sorriem
amargas
e são poeira nas retinas
ruído infernal
queria suspender o infinito céu
pendurar essa árvore
para me abrigar das gotas da chuva.
…
Ser escultora
e poder rumar o olhar
à metade do mundo que esculpi
harmonioso rosto de amabilidade cavaleiresca
uno as pálpebras e tacteio…
esculpo em terracota e guarneço-a de afecto
ternuras que emanam desses versos
tremeluz meu labor de artístico regozijo
jovial sonho de acordar
e ver esta peça no museu da minha ventura
…
Persigo fantasmas
aguardo a flor com fome de sonho
que espera na doce janela da memória…
Quentes rememberanças
de tristezas nesta vida avó…
penduro, no abismo, meu conto de fadas
as memórias apagadas do sabor da hortelã
concurso de sonhos por realizar…
mirar definhado no tempo morto da areia e do mar
na doce fragrância de algas
e sal…
…
Gostava de ver o espelho narcisista da humanidade
num tempo de nítidas verdades
que vagueiam algures na esperança…
espelho estranho, embriagado
que conserva a sete chaves o sentimento melhor de todos
no rápido relâmpago do remar do tempo perdido…
reluz a existência, na gaveta fechada!
E pensem o que quiserem!
Estou sozinha e ninguém me salva!
…
Afoguem-se num mar de angústia e dor
mas deixem meu rasto de olhos…
se for libélula, quero bailar no vento tépido
as asas serão palavras de harmonia
e esconjuro os medos.
Ah!
sob as estelas, dormir sem receio do lobo
sentir o chocolate num mar de laranja
abraçar-me e dançar com o sorriso
sem críticas de insanidade
dançar ao vento e saber comer a maçã…
Quero uma fracção da lua e do mar!
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Ser feita de sonhos
olvidados algures…
Boneca de retalhos sonhados, coloridos
que, por vezes, faz sorrir
ou chorar…
Boneca de sonhos despertos
que teima em sonhar…
mas o corpo precisa de calor…
Escuta meus olhos
e ouvirás a verdade que guardo no peito
sem temer a invasão de meus segredos…
Serei flor que insiste nascer entre fragas?
Serei leão que aprendeu a amar o oceano?
Maiores os socalcos da alma
que os revelados pelo espelho!
Quero sentir-me anjo e voar
e não a serpente que rasteja!
Acalentada pelo silêncio da noite
guardo os ventos de amar o mar…
E o tempo não cessa!
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
beijo eterno o da lua na janela
…
os desejos vagueantes murmureiam
nesta noite de cambraia
em que arminho harpeia a lira…
vem
bebe estes suspiros balbuciantes
aplaca o sangue que ferve
morango sangrento nos lábios voluptuosos
bocas que se unem comungam o mesmo anseio
desencadeiam licores
veste-me o corpo com teus dedos quentes
como se não fossem só duas, as tuas mãos
…
alheios ao tempo
deixo cantar os poemas nunca escritos
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
braços que envolvem a alma
mãos que afloram, que tocam
com garra
avesso exangue
no pensamento do sangue
sabor de beijos
calor de lábios
calibram o desequilíbrio
em fonte de banho
a cor de dois
luminoso olhar de silêncio
ansiedade de sentir o calor da pele
o sabor do perfume de pele
línguas que se saboreiam
inteiro arrepiar
entrecortar de respiração
alagar do calor no ardor mais intenso
exalar embriagante da razão que se elanguesce
famintos, já não se ouve o canto das aves
fundem-se os corpos
fundem-se as almas
náufragas de bocas ensandecidas
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
aplacar do corpo a fome
assanhar de desejos
sublimar ardente paixão que consome
em sensuais brasas
olvidam-se os entraves
gemidos e suspiros de cristal
receber um coração e guardá-lo em terno abrigo
desnudar, arranhar de fera no corpo
mordicar a carne quente a cada palmo
furtar a cor do batom por lábios maduros
o corpo reclama o corpo
crescente volúpia
ajustar os olhos e sentir
a boca em louca festa de flores
ungido impudor
vence devasso êxtase
penetrar águas para ser!
ansiedade vibrante,
sonhos que fazem amor com fantasias
veias pulsantes, sangue que ferve,
corações palpitantes
banquete de espuma e carne
do néctar existente nos corpos ardentes
…
o desejo tem pressa
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
O peito é casa vazia
e sem árvore no Natal.
O rosto brilha
inundado de lágrimas…
O remanso da dor perpetua-a…
Calou-se o silêncio
no mundo tacanho…
A razão perdeu-se
algures na opacidade deste mundo que gira…
Os sonhos existem
a realidade é que está errada!
Sem vento soprada
a brisa imortal impõe mediocridade à vida.
O peito é casa vazia
mas com árvore no Natal….
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
esmalte pálido
aguardo ao relento
o poisar do silêncio
aro em meus dedos
o olor, a fragrância de verde maçã
bordo
a ponto de areia a cor dos teus olhos
a ponto cadeia a força bravia dos braços
…
aguardo
não quero tecer mais saudade
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
despertar as pálpebras sonolentas
que desenformam um olhar audacioso
de firme desenho…
contemplar
quem passa alheio
à indescritível comédia da vida…
a boca ampla de que a natureza nos proveu
castra a palavra
mordendo os cantos inquietantes
nunca viçou barbara austeridade…
na vigília que compraza
tece júbilos ao gélido granito
inenarrável a pujança faustosa
do grotesco cruzar de braços
hirsutos verbos na abstinência do som
o embuçar do sono
o embebedar de sonhos
da palavra colorida
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Pelas traseiras, entra-se na madrugada
que consome a conta gotas
migalhas de memórias
anavalham
vagabundam vultos
omitem a dor do oco no estômago
há conversas diluídas num cais de amizade
nas brumas da ilusão
o corpo conta as gotas do tempo do destino
tenta-se engomar os sonhos
recito uma lágrima de um poema
as lágrimas são estreladas
desfoca-se o olhar
mantém-se o buraco cingindo a solidão dos dias
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Até o fumo do cigarro foge de mim
nestas horas sem chão
criam-se sons
para não ouvir as gargalhadas da tristeza
ajoelham-se as palavras no vento
com velas de silêncio
inútil cremar impressões digitais do tempo
embalsamam-se momentos
sou portadora de questões inquietas
de sombras vestidas de nada
palavras de vidro
e as estrelas mortas nos telhados…
talvez a loucura morra sem saber
a voz funde-se na distância
opaco este silêncio
uníssono o afastar do entender e da crença
e permite-se o descansar da raiz
Edite Gil
(Registado no IGAC)
Em surdina gagueja-se a revolta
enferrujando versos
tenho a vida a crédito
nem raio de sol nem palavra com raiz
restos de vida perdidos em bolas de sabão
o remendar da alma
…
abrigo o beijo flor de lis
em meu peito que se evapora
exéquias à linha do horizonte
ampara-se o tombado coração
gela o grito do abutre que naufraga na nuvem
a brisa entristece
vegetam os dedos na mão
solta-se um miado à morte prometida
escrevem-se poemas de plástico, sem côdea
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
A vela trémula
de sonhos vorazes
a raiar perfumes e sabores…
Indecifrável,
a madrugada aflora
ousada guardiã dos íntimos desejos
intrépida alma inflamada…
Sou rio livre que flúi sem comportas
ou com portas descerradas…
Desvarios incontidos
e serenos tecem intimidade…
A serenidade do olhar contemplativo
a sensualidade do néctar esquecido nos copos
o viajar sobre a pele
e naufragar à luz que acende os desejos
do fogo sagrado de cada um…
É supremo
sonhar flores novas
e ser poema de amor…
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
o mundo está lá fora
mudo nas retinas
que não desfaleça o corpo
o quotidiano infinito já desbotou
encantos desabotoados
desaguam em salgados mares
onde se fundem águas de pranto
acordar com falta de si próprio
encontrar-se como trôpego rebuçado
a vida é um enfado num parque de diversões
a sobrevivência, uma rotina
…
muda a resposta de hoje
muda, a pergunta de amanhã
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Mar almirante
águas mornas dos céus que descem
quando o luar faz vénia à janela
a lua envergonha-se e esconde-se no firmamento
o beijo que pelo corpo desce
toque que descasca o desejo
disseminando tons de aromas sensuais
cores de pétalas vogam corpo adentro
noite perfumada de pasto
lábios que pedem água de ternura
melodioso corpo
o perfume da maré quando se retrai
doces volteios de libelinha que acaricia o coração
ombros das estrelas entreolham-se
com dedos de hortelã em mãos de zimbro
…
o amor é lírica perfeita neste mundo de imperfeições
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Quero vogar no sonho inaudito!
Mutilaram o sono, para não sonhar!
…
Nasci anjo,
bebi conceitos
cresci com a razão
cortaram-me asas!
Asas insistentes e sonhadoras,
pequenas asas contra as injustiças,
ínfimas asas contra o mal…
Sou mortal indecente,
impreciso e indeciso
crente e indulgente…
Deceparam-me as asas…
Nasci anjo,
…
Mutilaram o sono, para não sonhar!
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
desconheço
o saber do sabor dos braços das ondas
quando penteiam a areia
braços doridos
singrando sangrando
colados ao chão
guiados, transigentes, na procissão
carregam o andor da espuma
exalando rotina
inertes
não voam!
…
não se pode desistir do voo
no esmero da sobrevivência da rotina
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Palavras mudas de elocução
alterando o rumo da perfeição
pecando na sonoridade
farrapos de passos que o tempo trespassa
falácio palácio que engaça e enlaça
em bruma, caruma de espuma
que em suma nem ruma!
Sofrer esconjuro
em apuro bem duro
do futuro eu saturo…
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Classifico as aves com chave dicotómica
de grupo em grupo
de sub-grupo em sub-grupo…
surgem com nomes estranhos!
Classifico os animais com chave dicotómica
de grupo em grupo
de sub-grupo em sub-grupo…
surgem com nomes estranhos!
Classifico os peixes com chave dicotómica
de grupo em grupo
de sub-grupo em sub-grupo…
surgem com nomes estranhos!
Classifico os seres com chave dicotómica
de grupo em grupo
de sub-grupo em sub-grupo…
surgem com nomes estranhos!
…
Onde é que eu me enquadro?
Onde me classifico?
Quem sou?
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Ser matéria prima
em estrada de precipícios
dantescos abismos
de impecável qualidade
e condenável perigo
que aflora a crença
aquando, de escarpa tranquila,
convida à ilusão
em jardim idílico
que no Inverno cultiva Primaveras
e dos ais despontam quedas de água
fluindo pálidos odores a alecrim…
Talvez na ruga perdida
ouse avivar vento…
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Às palavras eu confesso
que me perco nas letras que as formam…
Perco-me no ar e no mar
no frio e no fogo
no erudito e no trivial
na busca incessante
na terra e no sonho
no eco perene…
Confesso às palavras
que me perco nas letras que as formam
e fico sem palavras…
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Busco paz e beleza
encontro tristeza e melancolia…
mal traçadas linhas
delineiam o coração…
rumo de luar em luar…
olhos de aurora
timbre de canora
enlaçar do crivo inquieto da memória
quanto tempo, tanto tempo, bruma, dentro de mim
há um vazio que se repete ecoa
bárbaro sentir nesta insula que habito
hora de oiro e de agoiro
prometida e anoitecida
pés de espinhos, roxos, doridos
em cálice de orvalho, sem luz celeste
sou pássaro sem fonte
e rumo ao Norte neste deserto árido
são menos os peixes do mar que a dor
a fogo, rumo para os ferros
gruta de praia que a onda, à bruta, faz
rude aragem nesta viagem
onde pranteio
amortalho o frio em ilusão de alma
chove!...
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Ignomínios verbos os do poema
onde se pranteia a dor
da tristeza inflamada
pela estrela atingível e não alcançada…
Livro sábio onde apodreço
de rebuscado pesar
onde pantanosas águas
erigem seu lar…
Rumando a parte alguma
a lugar de ninguém
na esperança que não se exuma
do calor que não se detém
em féretro se arruma
este ser de ninguém…
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
O lançamento do meu livro “O LADO INAUDÍVEL DAS COISAS“
terá lugar na livraria BUCHHOLZ,
Rua duque de Palmela, 4 – Lisboa,
dia 24 de Fevereiro de 2011, pelas 18h 30min.
A apresentação será feita pelos “Jograis do Atlântico”
Cansei-me de ver
burilado excessivo
em vocábulos toscos e grosseiros
peculiarmente ostentados…
Cansei-me da busca
da substância da vida
dominada por
línguas de malícia, na escuridão incandescente!
Encrespa-se a estercada
vanglória do fundamento nulo
Quero peneirar
para me libertar das palhas…
Quero nadar para outras margens…
Quero ver outras paisagens…
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Será mau prenúncio
ou lapso demencial
colocar a máscara de candura
aquando do lado errado do cano de esgoto?
A não contestação do ancestral,
essa armadilha ortodoxa
que nos incute uma inoperante oralidade
disfarçada de cacho de rosas,
numa beleza visualmente controversa
talvez louvando a demanda da ociosidade de parasita
permite ao pensamento divagar por lado nenhum
aceitando esse féretro que enclausura…
Que verme não segmentado
se permite ser ladrão de pensamento
deixando o afluir das lascívias?
Que aves acordam,
numa afoita rudimentaridade avançada
e se abandonam ao capricho da chuva?
Afinal, neste imenso pecúlio cerebral
não é só o vento que não se preocupa com a sua caligrafia.
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Terá esta gente memória de peixe?
Reinará, a indiferença mundana acomodada?
Onde está a educação e a formação?
Assistiremos pávidos e serenos
ao apodrecimento da pureza já tão perdida?
A que móbil interior poderemos apelar,
quando, com uma precisão cirúrgica,
a amoralidade suplanta os bons costumes?
Seremos prisioneiros
dos silêncios eternos e inoportunos,
adormecendo ante o ribombar de problemas e emoções?
Rebelamo-nos demonstrando o descontentamento gélido
ou contemplamos apenas as exéquias da nossa história?
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Aqui estou em sã demência
vislumbrando vultos iluminados pela lua
onde ao calor de uma carícia
se opõe a brisa aromatizada com odores de crisântemos
meu ser
de modernidade primitiva
elaboradamente esculpido
vislumbra com hipnotizadora nitidez
a esquálida vida
que teima em atravessar seus muros
líquido insensato carmesim me aflora o rosto
silhueta obscura de um aroma recortado na aurora
arrastando ansiedade e raiva
de nuvens sombrias
que ocultam o sol de uma manhã perfeita
há o gemido a percorrer o corpo
a percorrer a chave do cofre da mente
viro costas às recordações
a lua esconde-se detrás das nuvens
o gelo da bruma invade os ossos
a um ritmo compassado
os olhos como brasas do desespero
os lábios formando palavras
das profundezas de ruínas submissas…
Triunfa da irracionalidade!
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
por vezes buscamos em nós
respostas a questões sem nexo
numa interminável demanda
da utopia absoluta
de um ser desconexo
numa razão do músculo cardíaco
cega e inabalável
defraudamos o nosso ser
num infinito de húmidas labaredas
e num pensamento ridículo
conclui-se somente
que nos abandonámos algures no oco do universo
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
na sombra vespertina do crepúsculo
num céu riscado por nuvens preguiçosas
escuto taciturna
o som do sol nascendo e aquecendo a terra
o inaudível som das flores quando se abrem
as ervas bebendo o orvalho da noite
...
permito a carícia da chuva no rosto
encriptada em sentimentos mudos
sem ouvir mágoas
desejos
e opiniões...
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Olhei-me com verdade e que a sinta
essa pureza inculta de meu ser
neste ser desafortunado
nesta vida mumificada
a saudade é inútil
incauta a ânsia…
Uma unha raspou o mármore
nos labirintos do pensamento
e num borrifado dengoso
afivelei o ar mais distante deste mundo.
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Não conseguia dormir e apeteceu-me gritar.
Um grito completo do coração
Talvez afronta ao espírito,
Essa ladeira pedregosa do caminho da mente.
Insurgir-me contra a falsa luz da lua
Que se reflecte num lago inconsciente de serenas águas…
Surgiram meras palavras glaciais de sentido,
Sons inclementes de soluços exaustos,
Chuviscos desvanecidos de ecos estridentes…
Inclemente esta dor sórdida.
E num movimento animalesco
Um aperto de mandíbula
Monopolizou meu pensamento.
E neste mimosear de palavras cruas
Fiquei com um crédulo olhar intrigado de diamante multicor…
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
Já não tenho a energia de um cavalo de corrida
nem tão pouco sua ágil insensatez…
Minhas folhas têm margens farpadas.
Sigo adornada
de um véu inexpressivo no olhar.
A esse soluço exausto,
respondo com um olhar inclemente
tais duas janelas vazias para o nada na cabeça…
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.))
Quisera, Senhor, este Natal
plantar uma árvore
no coração dos homens,
com profundas raízes
nutridas em Ti.
Quisera, Senhor, este Natal
enfeitar essa árvore
com fitas doces de equidade,
bolas coloridas de amizade
com o nome dos amigos
escrito em cada uma…
Dos amigos que vejo
dos que não vejo há longo tempo
e dos que partiram e estão Contigo.
Enfeitar essa árvore
com luzes cintilantes de fé renovada
e no topo
a estrela do perdão.
Edite Gil
(Registado no I.G.A.C.)
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